quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Carta de um trabalhador rural descontente com a invasão de sua ex-escola por militantes do MST


TIAGO ALVES CORREA CARVALHO DA SILVA
é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” (ESALQ-USP)

Na segunda-feira da semana passada (17/08/2015) a invasão da Fazenda Figueira (Londrina/PR) causou surpresa e revolta em boa parte da comunidade ESALQUEANA. Notas de repudio e declarações de ex-alunos tomaram conta das redes sociais exprimindo a indignação contra este ato bárbaro. A história desta fazenda e de como ela veio a se tornar parte da FEALQ, nos ajuda a compreender a profundidade do abismo moral em que vivemos hoje. Alexandre Von Pritzelwitz assim como Luiz de Queiroz são exemplos de empresários do agronegócio brasileiro, que por espírito de extrema visão e compaixão para com as futuras gerações mudaram o rumo da agricultura nacional e a vida de milhares de estudantes. Se fossem vivos estes senhores provavelmente seriam enquadrados por alguns destes mesmos “estudantes” que se beneficiam de suas doações, dentro do grupo pejorativamente intitulado ruralistas. Esses mesmos, que são atacados dia após dia por essa esquerda abobada, detentora exclusiva da bondade e altruísmo existente entre nós.

De maneira curiosa, alguns ex-alunos que no passado endossaram ações e invasões do MST se posicionaram contrários ao ato na Faz. Figueira. Como avaliar essa mudança repentina de posicionamento? Primeiramente, é provável que a grande maioria dos atuais ex-alunos, por mais desinformados que sejam, já tenha escutado a respeito do trabalho de excelência que vem sendo desenvolvido nesta propriedade. Esta, que é referencia no desenvolvimento de pesquisa na área de pecuária com ênfase em sustentabilidade e conservação ambiental, o que invalida o argumento de propriedade improdutiva.

Mas acredito que exista também um sentimento conflitante nessa situação, algo que um observador externo não conseguiria compreender. Não importa a data de formatura, curso, espectro político ou tipo de moradia estudantil, todos nós temos a escola como sendo um pouquinho nossa. Um sentimento estranho, mas que comungamos ao passar pelo portão principal e ver o busto de Luiz Queiroz e o prédio central imponente ao fundo do gramadão. O coração acelerado no peito e o arrepio dos pelos ao baixar a janela e sentir o vento fresco e úmido da matinha com o cheiro do Pau d’alho. E ver a história da sua vida cruzando na sua frente entre o portão principal e o Flamboyant do laguinho. E agradecer silenciosamente aos céus a oportunidade de ter vivido tudo isso e que, apesar de tantos anos já passados, ainda ter a sensação de estar chegando em casa. Acredito que este sentimento ajude muito a compreender esse comportamento paradoxal.

Apesar dos índices técnicos darem bastante sustentação ao argumento de que esta propriedade definitivamente não é improdutiva, os mesmo s nunca são colocados em consideração quando propriedades alheias são invadidas. Inclusive propriedade que realizam pesquisa de altíssimo nível, bem como faz a Faz. Figueira. Qual a diferença? A diferença é que a justiça social boa é feita com bens alheios, com os nossos nunca!

Agora, imagine se esta situação estivesse acontecendo com a propriedade da sua família. Imagine que seu título e registro de terra fosse mais antigo que a própria ESALQ e tão legítimo quanto a Faz. Figueira. Que você fosse escorraçado como bandido da terra que viu seus avós e seus pais construindo após anos de batalhas. Que você tentasse contar sua história, o quão absurda é esta situação e que seus amigos não conseguissem nem mesmo compreender. Essa é a situação não só da minha família, mas quase 100 outros produtores somente no estado do Mato Grosso do Sul.

A distancia entre o mundo rural e o urbano dificulta a compreensão dessas questões por grande parte da população. A imagem propagandeada Brasil afora é a que nós, produtores rurais, somos todos malévolos exploradores, destruidores do meio ambiente e assassinos de indígenas. A cegueira ideológica não permite que estes propagandistas vejam que somos tão maus ou tão bons como eles próprios. E que nossas propriedades devem ser respeitadas assim como as suas, seja esta um comércio no centro da cidade, uma casa em um condomínio de luxo ou um apartamento na periferia.

Muito provavelmente também não é do conhecimento da maioria que na semana passada um grupo de indígenas, além de invadir uma propriedade de forma truculenta utilizando arma de fogo, fizeram a família de refém e agrediram fisicamente os proprietários. A barbárie se repete dia após dia longe doa holofotes da grande mídia. Nos últimos três anos eu vi e vivi as consequências destas ideias nefastas, afetando diretamente os dois bens mais valiosos da minha vida: minha família e minha escola. Não seja o próximo a morrer sentado! Levante-se contra todas as ideias que atacam nossos direitos, propriedades e liberdades.

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